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Três a cada quatro tiroteios na região foram motivados por ações policiais
Foto: Reprodução / Redes Sociai
Moradores da Maré, na Zona Norte do Rio, têm sofrido com intensas operações policiais em 2024. Somente este ano, 39 ações da polícia resultaram em tiroteios, segundo o levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado. Ao todo, 16 pessoas foram mortas e outras 11 ficaram feridas nestas ações.
O número revela ainda que as operações policiais na região foram mais frequentes. A cada quatro tiroteios ocorridos na Maré em 2024, três foram motivados por ações policiais.
Série histórica
Nos últimos oito anos, entre 1º de janeiro e 4 de setembro, houve na Maré:
2024 – 52 tiroteios, 18 mortos e 12 feridos no total
Desse número, 39 tiroteios (75%), 16 mortos (89%) e 11 feridos (92%) em ações policiais
2023 – 31 tiroteios, 8 mortos e 7 feridos no total
Desse número, 23 tiroteios (74%), 7 mortos (87,5%) e 7 feridos (100%) em ações policiais
2022 – 48 tiroteios, 8 mortos e 13 feridos no total
Desse número, 13 tiroteios (27%), 6 mortos (75%) e 10 feridos (77%) em ações policiais
2021 – 36 tiroteios, 7 mortos e 3 feridos no total
Desse número, 13 tiroteios (36%), 7 mortos (100%) e 2 feridos (67%) em ações policiais
2020 – 47 tiroteios, 5 mortos e 4 feridos no total
Desse número, 15 tiroteios (32%), 4 mortos (80%) e 4 feridos (100%) em ações policiais
2019 – 81 tiroteios, 18 mortos e 20 feridos no total
Desse número, 32 tiroteios (39,5%), 16 mortos (89%) e 17 feridos (85%) em ações policiais
2018 – 89 tiroteios, 11 mortos e 13 feridos no total
Desse número, 15 tiroteios (17%), 9 mortos (82%) e 7 feridos (54%) em ações policiais
2017 – 74 tiroteios, 9 mortos e 33 feridos no total
Desse número, 26 tiroteios (35%), 3 mortos (33%) e 28 feridos (85%) em ações policiais
Mais afetada por tiroteios
O levantamento do Fogo Cruzado mostra ainda que a Maré é o bairro da Região Metropolitana com mais tiroteios durante ações ou operações da polícia.
Entre os cinco bairros com mais tiroteios estão o conjunto de favelas com 39; Bangu com 17; o Itanhangá com 16; a Penha com 15 e Brás de Pina com 14.
Para Carlos Nhanga, coordenador do Fogo Cruzado no Rio de Janeiro, os números preocupam por conta do efeito no cotidiano da população.
“Olhando a série histórica, vemos uma alta na participação da polícia nos tiroteios. E vemos também como a polícia hoje atua muito mais na Maré do que em outras localidades. Ou seja, aquela população que vive ali está convivendo com níveis de violência armada sem comparação na região metropolitana hoje. A população tem direito de saber qual o objetivo desta política de segurança que deixa crianças sem aula, fecha UPA, interrompe o transporte público”, questiona o coordenador.
Sem aulas há 15 dias
Os dados sobre o impacto dos tiroteios na educação mostram como a violência afeta os mais jovens. Em 2024, o Fogo Cruzado registrou 22 dias com tiroteios no entorno das escolas da Maré. Em 64% desses dias houve participação da polícia.
Conforme o levantamento feito pelo Ministério Público do Rio, com base nos dados do Instituto Fogo Cruzado, a Maré é uma das áreas que registraram mais confrontos perto de unidades de ensino.
Por conta das recentes operações, as escolas públicas na Maré estão há 15 dias totalmente ou parcialmente fechadas e somente na última terça-feira (03-09), ao menos 38 escolas suspenderam as aulas por conta da operação que ocorre na região.
O estudo do Ministério Público mostrou ainda que as escolas impactadas por tiroteios no entorno têm nota média no Ideb menor do que os colégios que ficam fora dessas regiões.
Sobre o Fogo Cruzado
O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.
Com uma metodologia própria, o laboratório de dados da instituição produz mais de 50 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife, de Salvador e de Belém.
Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto ou dos relatórios produzidos mensalmente.