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Por Wendell Setubal*/
Foto: Reprodução/Internet
A COMPOSIÇÃO de um ministério equivale à de uma seleção de futebol: há os que concordam com os nomes escolhidos, há os que discordam. No caso do governo Lula, a questão dos nomes ficou mais exacerbada porque a Frente é bastante ampla e todos queriam ser contemplados.
ENQUANTO a composição do ministério era negociada, bolsonaristas acampavam na frente dos quartéis, pedindo intervenção militar com a permanência de Bolsonaro. Dois meses de acampamento. Ao contrário de milhões de brasileiros, todo dia havia comida para eles, banheiro químico etc. Quem pagou tudo isso? Esse povo não trabalha? Com a live final, lacrimejante e melancólica, que marcou a despedida de Bolsonaro, muitos saíram desiludidos com o desfecho.
A ENTRADA em cena, em cadeia nacional, do general e futuro senador Mourão, como se fosse um porta-voz do Exército, deixa claro que a liderança da direita está em disputa. Os processos que vão cair sobre Bolsonaro irão obrigá-lo a preparar a defesa, sobrando pouco tempo para articulações políticas.
NO CAMPO da esquerda, é inevitável engolir no governo os Barbalho, os Calheiros, a Daniela do Waguinho e vai por aí. O purismo pedido pela esquerda radical não se sustenta; deveriam ser apresentados à senhora Correlação de Forças, ao senhor Neoliberalismo e à Financeirização do Capitalismo. Vieram para ficar.
NO PT, havia restrições a Marina Silva e Nísia Trindade (ministra da Saúde). Um grande equívoco, pois Marina é uma ambientalista respeitada em todo o mundo. O trabalho da Fiocruz na gestão Nísia não se limitou a produzir e pesquisar vacinas. Houve e há um trabalho social no seu entorno (favela de Manguinhos).
DO OUTRO lado da Frente, houve críticas ao “insaciável” apetite do PT por ministérios. Afinal, quem ganhou a eleição foi o PDT? PSB? MDB? Não, foi Lula, que é filiado ao PT. Portanto, é natural que os cargos-chave sejam ocupados por pessoas que Lula considera confiáveis. Simples.
OS BOLSONARISTAS acampados lembram a personagem de Nelson Rodrigues, a mulher levada ao Maracanã pela primeira vez, que pergunta quem é a bola. Esta direita começa a se derreter. A preocupação é com a direita que chega em fevereiro, no Congresso mais conservador que o país já teve.
MENCIONAMOS antes a financeirização do capitalismo. O que é isso? Uns produzem, se venderem a mercadoria ótimo, se encalhar podem ir à falência. Outros pegam seu dinheiro e emprestam ao governo. Recebem um papel chamado Título da Dívida Pública, com a data para receber o dinheiro de volta com gordos juros. Para garantia de que não haverá calote, inventaram o chamado Superávit Primário, dinheiro guardado para provar que o país honra seus compromissos. Saúde e Educação como ficam? Para o emprestador, isso não lhe interessa.
O GOVERNO Lula vai simultaneamente pagar os juros e tentar investimentos que produzam renda e emprego. É o namoro do macaco e da girafa. Ele sobe pela girafa, dá um beijinho e volta. Torna a subir e desce de novo. Até criar condições para auditar e renegociar os prazos da dívida. Até lá, o macaco vai subir e descer várias vezes.
TRATA-SE de um governo de centro-esquerda, liderado por um social-democrata. O pênalti da composição do ministério foi bem batido por Lula. O pênalti do trabalho de base, cinzento, nós é que vamos bater.
*Wendell Setubal – Revisor de texto com Pós-Graduação pela PUC-MG. Publicado originalmente na página Fato e Ideias no Facebook.