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Por Wendell Setubal/
Foto: Reprodução/Internet
NO futebol, usa-se chuteira; no dia a dia, sapatos; Luiz Inácio Lula da Silva insiste no salto alto.
NOS anos 60, em Ipanema e adjacências, usava-se muito, por influência do jornal “O Pasquim”, a expressão ‘inserido no contexto’. Está inserido no contexto? Vale a pena. Trata-se, aqui, do oposto. Extrair do contexto alguma afirmação que depois é bombardeada pela canalha bolsonarista. Lula diz que a classe média ostenta o que não tem. O exército bolsonarista vai usar isso para desmoralizar Lula na classe média, como se não bastasse o marxismo barato de Marilena Chauí dizendo “Odeio a classe média” (fora isso, respeitamos sua trajetória intelectual). Lula afirma que o empresariado é escravista. E o pequeno empresário, com oito empregados? Massacrado por Bolsonaro e os bancos. Não importa, os robôs vão trabalhar, eles não pensam. Sua posição sobre o aborto vai ser cuidadosamente retalhada e comentada pelo pastor neopentecostal no culto dominical.
CIRO Gomes, na faixa dos 7% de intenção de voto, passou Lula no Instagram! Ou a candidatura Lula supera esses percalços ou frustrará os que não aguentam o sufoco fascista.
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DOIS anos depois do Golpe militar de 64, foram realizadas eleições para senador e deputados. Em 1965, Rio e Minas elegeram candidatos de oposição para governador, uma oposição débil, mas Negrão de Lima no Rio e Israel Pinheiro em Minas obrigaram a ditadura a cancelar a eleição presidencial direta. Em 1966, com apenas 15 dias de campanha, o jornalista Mário Martins foi eleito senador pelo Rio de Janeiro, ainda Estado da Guanabara: derrotou o fraco Benjamin Farah, ligado a Chagas Freitas, dono dos jornais “O Dia” e “A Notícia”; Danton Jobim, uma oposição moderadíssima; o candidato do governo, Venâncio Igrejas. O filho de Mário era da dissidência estudantil do PCB, a DI, que hegemonizava o Movimento Estudantil, no Rio. Além de Franklin Martins, eram da DI Daniel Aarão Reis, Cid Benjamin e a liderança maior, Vladimir Palmeira, todos no Rio (José Dirceu em São Paulo).
TAMBÉM havia os secundaristas carentes que almoçavam no restaurante mantido pelo MEC, Calabouço, onde hoje é a sede náutica do Vasco da Gama, perto do aeroporto Santos Dumont. Suas passeatas acabavam na Cinelândia. No fim de março de 1968, a PM matou Edson Luís de Lima Souto, frequentador do Calabouço, em todo o Brasil explodiu o Movimento Estudantil, que redundaria no AI5. Os secundaristas do Calabouço faziam parte da FUEC – Frente Unida dos Estudantes do Calabouço – dirigida por Elinor Brito. O secretário-geral era João Moura, independente.
NA segunda-feira, aos 74 anos, faleceu João Moura, um infarto fulminante. Ele combateu o bom combate.
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JANU foi da Var-Palmares, destroçada pelo Exército. Seu amigo tentava reconstruir o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) na Bahia.
O PCBR rachou com o PCB, mas discordava da luta armada. Tinha os melhores dirigentes na esquerda. Mário Alves era o redator dos textos do PCB; Apolônio de Carvalho, participante da Guerra Civil Espanhola e da Resistência Francesa, era conhecido internacionalmente e Jacob Gorender era um dos intelectuais comunistas mais respeitados.
COM o assassinato de Mário Alves, empalado, e as prisões de Apolônio e Gorender, a juventude que assume a direção está radicalizada e opta pela luta armada. Também foram destroçados.
JANU e o amigo fazem os contatos e assaltam bancos para manter a organização. Resolveram ir, à noite, na zona de prostituição da cidade pequena em que estavam.
JANU escolhe a mulher e vão para o quarto. Cansado, ele demora. De repente, levanta os olhos e verifica que a prostituta está lendo “O Cruzeiro”. Ela diz: “Ué, ainda não acabou?” Ele fica furioso e explode: ”Porra, ‘O Cruzeiro’, revista de direita. Tira isso daí, tira isso daí.”
RETIRADA a revista, ele chegou ao ápice.
*Wendell Setubal – Revisor de texto com Pós-Graduação pela PUC-MG. Publicado originalmente na página Fato e Ideias no Facebook.