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Por Wendell Setubal*
Foto: Reprodução/Internet
ANOS e anos de inação, com o Rio sendo governado por Pezão, Garotinho e pilantras outros, só chegaríamos a isso: capital da Violência. E Jequié? E a polícia da Bahia? Jequié é a cidade mais violenta do Brasil e a polícia baiana a que mais mata no Brasil: 4 pessoas por dia, depois de mais de 10 anos de administração petista. Mas tudo repercute se for no Rio.
TRÊS fatores levaram a esta guinada de Cidade Maravilhosa para símbolo da violência nas grandes cidades: o crime ficou organizado, as milícias cresceram com a vista grossa das autoridades e o crime organizado fez alianças políticas, principalmente com a família Bolsonaro.
NOS anos 1950, os assaltos eram a bares da zona Norte suburbana. Mineirinho e Cara de Cavalo foram os bandidos mais famosos, Cara de Cavalo, por exemplo, morreu com mais de 100 tiros. Nos anos 1960, assaltar bancos era crime inserido na Lei de Segurança Nacional, por causa da esquerda militarista que começou a assaltar bancos para comprar o necessário para uma guerrilha no campo. Os presos ditos comuns conheceram os presos políticos e alguns se assumiram como de esquerda.
UM deles, William da Silva Lima, o “Professor”, criou com Rogério Lemgruber e outros o Comando Vermelho. Faziam parte Paulo César Chaves, o bandido da Chacrete, que namorou uma das dançarinas da Discoteca do Chacrinha, Zé Bigode, Souza, ex-militante do PCdoB, em Jequié, e Januário. Janu, como era chamado, foi da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, a VAR-Palmares, dirigida pelo capitão Carlos Lamarca. Dilma Rousseff foi uma de suas militantes.
NA Ilha Grande, o CV proibiu estupros e lutou por melhorias nas condições de vida na prisão. Depois de algum tempo, alguns conseguiram fugir.
O PROJETO político do CV fracassou. A maioria foi presa, Zé Bigode não se entregou e ficou cercado em um Conjunto Habitacional, levando mais de 100 tiros. Janu foi degolado pela PM de São Gonçalo, enterrado como indigente no Pacheco. Era meu cunhado.
CONVERSEI muito com William e ele mencionava os Panteras Negras como influência.
A TÁTICA dos Panteras norte-americanos era de cometer pequenos delitos, cumprir pena e na penitenciária ganhar a massa carcerária negra para a luta contra o racismo norte-americano.
COM as prisões dos dirigentes, assumiu o segundo escalão, que não tinha interesse em trabalho político. A ironia é que Escadinha, que passou a ser o número 1, era filho de um comunista chileno que fugiu para o Brasil com o golpe militar de Pinochet.
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A FAVELA da Kelsons fica na beira da Baía de Guanabara, a droga chegando por barco. Um grupo de policiais aposentados e bombeiros formou uma milícia e expulsou o tráfico, prometendo aos moradores que a droga não entraria mais. Pediram uma pequena contribuição dos moradores.
O PREFEITO Cesar Maia saudou a criação da milícia, ocupando o papel do Estado. “Um mal menor”, disseram as elites.
DEPOIS veio o botijão de gás, o GatoNet e a expulsão de quem se recusasse a contribuir. Se controlavam a área, poderiam direcionar os votos para alguém.
AÍ entra a Família Bolsonaro. Vários assessores envolvidos com as raspadinhas eram milicianos, o mesmo acontecendo com a Família Brazão, denunciada na CPI das Milícias de 2008, presidida pelo deputado Marcelo Freixo.
A MILÍCIA do Rio das Pedras constrói até prédios sem fiscalização. É o vale-tudo. O subproduto é Cláudio Castro e um secretariado medíocre ou corrupto, detestando fazer licitações. Área de miliciano é voto certo para Bolsonaro.
OUTRO fator que leva o Rio para a direita é o crescimento dos evangélicos. Alguns pastores se comportam como a liderança miliciana: dão os votos para o candidato em troca de dinheiro ou outros “agrados”.
QUE fazer? Liquidar a milícia requer vontade política, que a direita não tem. Parte da esquerda não quer o confronto, pelas consequências que vai gerar. Os religiosos e os conservadores não discutem uma liberação de algumas drogas. A luta ideológica, hoje, é mais importante que uma arma de fogo. Conquistar a hegemonia é nossa tarefa. Isso dá trabalho, mas em longo prazo é o que nos resta.
*Wendell Setubal – Revisor de texto com Pós-Graduação pela PUC-MG. Publicado originalmente na página Fato e Ideias no Facebook.