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Por Wendell Setubal/
Fotomontagem por Cecilia Setubal/
Imagens: Reprodução/Internet/
O Bonaparte a que me refiro não é o genial estrategista militar Napoleão Bonaparte, que só foi derrotado quando invadiu a Rússia e perdeu a batalha para o general Inverno. (Na Segunda Guerra, a baixa temperatura derrotou os alemães que invadiram a Rússia, mais uma vitória do general Inverno, ajudado por generais que Stálin expulsara do Exército, alegando conspiração, e teve de chamá-los de volta porque eram competentes.)
O Bonaparte em questão é Luís, sobrinho de Napoleão, que foi eleito presidente na França, pelo voto direto, mas deu um golpe militar em 1851, proclamando-se imperador.
Em 1852, saiu o livro “O 18 de Brumário” de Luís Bonaparte, de autoria de Karl Marx. Ele aborda todas as questões políticas do golpe, mas não simplifica a análise, por exemplo, dizendo que o fator econômico explicaria, por si só, o golpe. O econômico é determinante EM ÚLTIMA INSTÂNCIA.
Leon Trotsky, um dos líderes da Revolução Russa, retomou o conceito de bonapartismo, forma de governo que aparece em momentos de crise. O fascismo é a outra maneira que a classe dominante usa para manter o capitalismo. Na calmaria, um governo democrático-burguês, que negocia com as classes sociais, diretamente ou via parlamento.
Em um governo bonapartista, a divisão da classe dominante leva ao surgimento do bonaparte, uma espécie de árbitro dos conflitos que está ACIMA das classes.
Jânio Quadros, em 1961, com sua estapafúrdia renúncia, com sete meses de mandato, tentou o bonapartismo, mas fracassou. O único governo bonapartista que tivemos foi o de Ernesto Geisel, penúltimo ditador militar.
Em seu governo, Mário Henrique Simonsen representava os interesses do capital financeiro e da burguesia internacional. Delfim Neto defendia os interesses do setor industrial brasileiro e dos setores exportadores. Severo Gomes era o intérprete da burguesia que produzia para o mercado interno, o comércio e o pequeno capital. Acima de todos, como árbitro, Ernesto Geisel.
Havia uma divisão na classe dominante sobre o ritmo da abertura política, reconhecendo que a ditadura militar não era bem-vista, e até o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, pressionava pela abertura.
No Brasil de hoje, há setores no governo que defendem o ultraliberalismo, através das privatizações, querem acordos salariais discutidos entre patrões e empregados sem o sindicato e a Justiça do Trabalho, visam manter o Brasil como semicolônia, com a economia voltada para a exportação de soja e demais produtos agrícolas, minérios e petróleo. Paulo Guedes é o defensor desta posição.
A contraposição não liberal prioriza o mercado interno e a realização de obras de infraestrutura, para absorver parte da mão de obra desempregada ou na informalidade. Os recursos e o crédito para pequenos empreendedores viriam do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e do BNDES. Os setores do Exército que estão no governo defendem esta guinada.
Bolsonaro se equilibra nos setores que o apoiam, exercendo uma força centrípeta. Quem sustenta o governo?
1) O Exército, que aumentou sua participação no governo.
2) Os “ideológicos”, ligados a Olavo de Carvalho.
3) Boa parte da burguesia, mimada por Bolsonaro com perda de direitos pelos trabalhadores, permitindo-lhes aumentar a taxa de lucro.
4) Setores de classe média que têm horror a pobres e negros, gostariam de exterminar a esquerda e colocar ordem no país, via militarização. Atirar primeiro, perguntar depois é o seu lema.
5) Por fim, setores evangélicos contrários ao Estado laico, porque este Estado não pune os maus costumes, não prende quem aborta. Veem a esquerda como o Diabo em pessoa, não criticariam se ela fosse exterminada.
Este equilíbrio bonapartista precisa de apoio de massa: a escalada dos preços e o desemprego desgastam o governo e, se for confirmada a anulação dos processos contra Lula, Bolsonaro terá um adversário à altura.
Até aqui, com todas as barbaridades que fez, ele tem sido competente no seu objetivo de se reeleger e ter mais poderes.
A mobilização marcada para o dia 24, exigindo vacinas já e contra a perda de direitos trabalhistas, pode ser um primeiro termômetro para o lado de cá conseguir medir o ânimo das massas.