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Por Wendell Setubal/
Foto: Ari Barroso e Tião Macalé (Reprodução/Internet)
EU tinha 13 anos, morava em Copacabana e de segunda a sexta jogava futebol na areia. Na pelada e no Dínamo, time do Tião.
TIÃO Macalé era técnico e dono do time, homenagem ao Dínamo de Moscou. Porque Tião era comunista. E negro. E homossexual. Muitos anos antes da Buzina do Chacrinha, havia, no rádio, os Calouros do Ari. Este Ari era o compositor famoso Ari Barroso, que, além do programa de Calouros, era locutor esportivo. Não um locutor qualquer porque, em um Fla X Flu decisivo, em que o Flamengo, time de Ari, estava ganhando o jogo, faltando poucos minutos para terminar a partida, ele entregou o microfone ao comentarista, desceu e ficou no alambrado de Álvaro Chaves, campo do Fluminense, gritando “Mengo! É campeão!”, para a perplexidade dos ouvintes…
NO seu programa de calouros, quem errasse ouviria o soar de um gongo. Conta-se que um dia apareceu um calouro que disse que cantaria um sambinha. Ari, irritado, retrucou: Quem vem cantar um mambo não fala mambinho, quem vai cantar um tango não fala tanguinho, e o senhor vem cantar um sambinha. É isso mesmo, Seu Ari, respondeu o calouro, provocando risos na plateia. E qual é o sambinha que o senhor vai cantar? Aquarela do Brasil, Seu Ari. A plateia gargalhou e Ari perguntou: o senhor sabe quem fez este sambinha? Não sei não, Seu Ari, levando a plateia ao delírio. Ari mandou a orquestra começar e o calouro entrou: “Brasil, meu Brasil brasileiro. Meu mulato inzoneiro, Vou cantar-te nos meus velsos”, e lá veio o gongo. Ari Barroso disse: você pode cantar nos seus velsos, nos Meus versos você não canta não. Novamente a plateia ri bastante do calouro. Quem soava o gongo era o Tião Macalé.
VOLTANDO à praia, eu e outros meninos ajudávamos Tião a colocar a rede nas balizas. De repente, vi milhares de papel picado jogados dos edifícios da avenida Atlântica. Que era aquilo? Tião gritou: Filhos da puta, estão comemorando o Golpe! Os militares derrubaram o Jango. Foi assim que eu soube do Golpe Militar de 1964. Quatro anos depois, em 1968, já lutando contra a ditadura, fui preso e levado para o DOPS.
NA minha turma da escola, tinha um menino que se chamava Raul Teixeira, e o pai era brigadeiro. Membro do Partido Comunista. Na manhã de 31 de março, quando as tropas de Minas Gerais se rebelaram e vieram para o Rio, o brigadeiro Teixeira procurou João Goulart com a proposta de atacar por avião os rebelados, quando chegassem em Três Rios. O ataque faria com que recuassem. Goulart vetou, porque muitas pessoas morreriam. Depois do golpe, Teixeira foi reformado.
POR que menciono o Golpe Militar? Porque o Lorde das Trevas do Palácio do Planalto, com gente morrendo no chão do hospital, quer comemorar o Golpe Militar de 1964, que “salvou a democracia”. Até o filho mais novo, o 04, virou lobista e a Polícia Federal é polícia particular, abrindo inquérito contra quem protesta, pedindo vacina, leitos hospitalares, auxílio emergencial digno. Bolsonaro gastou milhões comprando cloroquina, produzida por um amigo. O Ministério da Saúde estocou milhares de testes, que não foram aplicados, e comprou máscaras para o setor de Saúde; na embalagem, está escrito NO MEDIC!
DÁ para comparar isso com o artifício que Dilma usou, atrasar o repasse para os bancos públicos (pedaladas fiscais)? Uma sofre impeachment; o outro tem vários pedidos de impeachment engavetados.
BOLSONARO e a maioria dos empresários pedem “liberdade” para os trabalhadores garantirem para os patrões o mais-valor de cada dia (trabalho não remunerado).
IR para a rua, sim, para exigir vacinas. Comemorar o golpe é escárnio. Fora, lorde psicopata!