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Por Wendell Setubal*/
Foto: Reprodução/Internet
O ANO: 1964. A escola: Pedro Álvares Cabral. Ficava nos fundos de um prédio na rua República do Peru, em Copacabana. Estudei lá na 6ª série, que era chamada de 2º ginásio.
A PROFESSORA de História, ao entrar na sala, conversava com a turma. Uma vez, ela explicou a diferença entre um conservador e um liberal.
DIZIA ela: os dois querem a mesma coisa. O liberal quer que as coisas sejam feitas rapidamente. Já o conservador quer o mesmo, só que sem pressa, para ficar bem-feito. Com essa explicação, a turma iria preferir os conservadores, mais “sensatos”.
LEMBREI disso porque um deputado estadual picareta quer apresentar de novo na Alerj um projeto para instituir o Escola Sem Partido. A alegação é sempre a mesma, os professores de esquerda doutrinam os alunos, ficando ostensivamente do lado da esquerda.
LÓGICO que um professor não deve distribuir panfletos nas turmas, ficar elogiando uma pessoa de esquerda, algo do tipo. O professor de História, ao falar da ditadura militar de 1964, tem de mencionar as mortes e as torturas ocorridas no período. Se vigente o Escola Sem Partido, não poderá falar.
NA minha época, os livros de História diziam que os indígenas eram preguiçosos, não queriam trabalhar para os portugueses (estes, boníssimos); por isso, a vinda de negros africanos para trabalhar SEM remuneração, escravos. Só lembro agora de um autor, Victor Mussumeci.
O MESMO projeto foi barrado na Alerj. Há sempre um picareta para tentar reapresentar e aprová-lo. Escola Sem Partido significa sem partido de esquerda, só mencionado para chamar a esquerda de assassina, ditadora etc.
DEPOIS, durante a Ditadura Militar, no fim do ano, a matéria acabava no governo Jânio Quadros. Nunca dava tempo para a matéria chegar em 64…
PASSEI em História, mas o melhor aluno se chamava Raul, Raul Teixeira. Seu pai, brigadeiro (era uma escola pública!), sugeriu a João Goulart, em 1964, que o autorizasse a mandar aviões a Três Rios, para bombardear os revoltosos, que, comandados por Mourão Filho, saíram de Belo Horizonte para prender Goulart, concretizar o golpe militar. Jango, como Goulart era chamado, disse que haveria muitas mortes e negou autorização. Muito mais assassinatos foram cometidos mais tarde pela ditadura.
O BRIGADEIRO Teixeira era do Partido Comunista Brasileiro. Nos anos 70, também fui do Partido, assim como Joel Rufino, que reescreveu a história do Brasil do ponto de vista dos trabalhadores. Ele e Teixeira foram presos, eu, anos depois, fugi para São Paulo, mas isso é outra história.
*Wendell Setubal – Revisor de texto com Pós-Graduação pela PUC-MG. Publicado originalmente na página Fato e Ideias no Facebook.