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Por Wendell Setubal*/
Imagem: Reprodução/
O TÍTULO do comentário de hoje é um verso do hino da Internacional Comunista. Sua síntese indica um método: união e luta.
HOJE, com exceção do Partido Comunista Brasileiro (PCB), quase ninguém se afirma comunista: você é de esquerda ou socialista. Na campanha eleitoral, os candidatos do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) colocavam o seu número bem grande e o nome do partido em tamanho menor. Eu fui, sou e sempre serei comunista, mas digo pros outros que sou “de esquerda”. Não quero ser confundido com a burocracia soviética.
JÁ a palavra democracia passou a ser mais usada no país após a eleição. A direita liberal, refinada, declara apoio a Lula, no segundo turno, por defender a democracia. Se Bolsonaro vencer, a maioria no Congresso aumentará o número de juízes e dará poder ao Senado para cassar juízes da Suprema Corte. E caçar com cedilha também. Rumo ao Estado teocrático, baseado no poder religioso.
NUNCA se falou tanto em democracia.
SERÁ que significa a mesma coisa, vista pela ótica da direita ou pela da esquerda? A Revolução Francesa fixou os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, um servindo de contrapeso ao outro, equilibrando-se. Democracia para a burguesia é chamar o eleitor/eleitora para votar de quatro em quatro anos. Escolhem seus governantes e quem vai representá-los.
MARXISTAS-LENINISTAS chamam essa democracia de burguesa, a ser substituída pela insurreição popular que criará por breve tempo a “ditadura do proletariado”. Esta esquerda fala em nome dos trabalhadores, que, algumas vezes, desconhecem esta vanguarda autoproclamada. A democracia burguesa e a ditadura do proletariado assemelham-se à democracia grega, que não incluía nas assembleias escravos e mulheres. Ambas só dão poder ao partido.
SE Marx só viu um levante importante durante sua vida, a Comuna de Paris, Lenin, ao contrário, liderou a tomada do Palácio do Czar da Rússia. Pouco depois, houve eleição para o parlamento, saindo vitoriosos os socialistas revolucionários. Lenin não aceitou a derrota e dissolveu o parlamento russo. Ao agir assim, estava abrindo a porta para o Terror de Stalin.
PARA a esquerda, democracia é tática ou estratégica?
UMA das boas contribuições para esta discussão é o texto de Carlos Nelson Coutinho, “A Democracia Como Valor Universal”, criticado por setores mais radicais, de esquerda. Os radicais acham que o bolchevismo pode ser aplicado em qualquer processo revolucionário. Para eles, a democracia formal – eleições, os três poderes – nasceu com a burguesia e só serve para ela.
ESQUECEM, como ressaltava Carlos Nelson, que origem é uma coisa, validade é outra. A burguesia abre mão da democracia quando atrapalha seus lucros; os trabalhadores querem AMPLIAR a democracia, com plebiscitos, consultas utilizando a Internet etc.
PORTANTO, a esquerda tem de superar dois equívocos: a visão quase mística da insurreição e, do lado oposto, a obsessão democrata, satisfeita com o que temos.
ALGUNS podem objetar que a discussão não cabe no momento: nossa prioridade é derrotar o fascismo. Concordo, mas a extrema direita põe em crise a democracia e devemos defender o que temos, tendo claro que queremos mais.
A GUERRA aos Senhores é permanente.
*Wendell Setubal – Revisor de texto com Pós-Graduação pela PUC-MG. Publicado originalmente na página Fato e Ideias no Facebook.