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Por Wendell Setubal
Imagem/Reprodução?
A DECISÃO do ministro Fachin de anular os dois julgamentos de Lula alteraram o quadro eleitoral para 2022. Bolsonaro foi pego de surpresa porque esperava polarizar com a esquerda, mas não com Lula; já colocou até máscara. Se houver essa polarização, será um autêntico Fla x Flu.
É PRECISO cautela porque Lula não foi considerado inocente; seus julgamentos foram anulados porque as acusações são referentes a um apartamento em Guarujá e um sítio em Atibaia, ambos em São Paulo. A comarca de Curitiba não poderia julgar Lula e sim enviar as supostas provas para São Paulo. Lula vai a julgamento em São Paulo e pode ou não ser condenado.
ACHAR que já está absolvido é prematuro. Lulistas ingênuos acham que ele nunca aceitou vantagens, mas sua influência foi decisiva para a Odebrecht ganhar diversos contratos na América Latina. É ingenuidade supor que Lula fez isso para o “bem das empreiteiras”.
AGORA, a condenação pelo triplex foi uma farsa porque não há assinatura sua em uma escritura do imóvel. O mesmo em Atibaia.
SE conseguir se livrar das condenações, ele será um candidato fortíssimo contra Bolsonaro. E a direita civilizada, que se diz de centro, não vai desistir de candidatura própria, tipo Luciano Huck. Terá chance de superar a polarização entre Bolsonaro e Lula? Sim vai tentar mostrar o “perigo” dos radicalismos de esquerda e de direita e ir para o segundo turno. Aí, vai querer o voto de quem ficou pelo caminho.
E A ESQUERDA socialista? Temos de priorizar a discussão de um programa, usando o que Ferreira Gullar chamava de molejo dialético. Que é isso? Elaborar um programa com jogo de cintura, que parta da necessidade de um Estado investidor, que gere empregos para os que vivem na informalidade. Lula fez isso com os recursos advindos do boom das commodities, soja, minério de ferro e petróleo. Acabou o boom? Taxemos os ricos, para ter os recursos necessários.
SIM, eu sei que Lula não quer brigar com a burguesia. Cabe a nós empurrá-lo para algum tipo de confronto. Na primeira vez, ele cooptou o movimento social. Não está dado que consiga de novo.
A COMPARAÇÃO da possível disputa Lula versus Bolsonaro com o Fla x Flu não é casual. A aprovação de um projeto que muda o nome do Maracanã, Estádio Mario Filho, para Rei Pelé, é um HORROR. Mario Filho, irmão de Nelson Rodrigues, foi quem criou a mística do Fla x Flu e o primeiro a chamar a atenção para a importância do negro no futebol brasileiro. Ressaltou a plasticidade do jogador negro, que lhe permitia a habilidade do drible. Criou um jornal exclusivo para esportes, o Jornal dos Sports. Quanto a Pelé, foi o maior jogador de futebol do mundo, mas se banqueteava com os poderosos. Pior é chamar de rei, como se reis e rainhas fossem os melhores. O racismo da família real inglesa reafirma o dito: o rei está nu.
